Galera, primeiramente quero agradecer o carinho e a preocupação de vocês comigo. Ultimamente tem sido bastante corrido, com trabalho, faculdade e outras coisas pessoais que nem está dando tempo para me dedicar ao Blognejo. Por sorte o Marcus está conseguindo bravamente segurar as pontas por aqui. Prometo que quando as coisas forem se acalmando eu vou escrevendo. Mais uma vez um grande abraço e meu muito obrigado a todos.
Fabio Dornelles >>>> @fabdornelles
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Quem é um pouco mais jovem, talvez não conheça bem a história, mas o público um pouco mais velho, que viveu na época, sabe o quanto foi dificil a ditadura militar. Foram anos que, para muitos, só merecem ser lembrados em livros de escola, para mostrar que não existe nenhum bem comparável à liberdade.
Na época, muito se falava sobre as canções de protesto, que, mesmo de forma subliminar, extravasavam o descontentamento do povo com o regime. Um problema sério, pois qualquer letra, mesmo sutil e aparentemente inocente, poderia ser taxada de subversiva, e seu intérprete ser perseguido, exilado ou até mesmo morto.
Apesar de não ter uma forte tradição politica e tratar de temas muito mais ligados á natureza e problemas de relacionamento, a música sertaneja também teve seus momento de protesto. Em 1984, quando a discussão sobre o processo de democratização estava no auge e o grito de liberdade não cabia mais dentro do peito dos brasileiros, Duduca & Dalvan lançaram “Espinheira”, disco que fazia críticas ao governo e à ditadura:
Veja abaixo um trecho de “Espinheira”
“Êta, espinheira danada, que o pobre atravessa para sobreviver,
vive com a carga nas costas e as dores que sente não pode dizer.
Sonha com as belas promessas, de gente importante que tem ao redor:
Quando entrar o fulano, sair o ciclano será bem melhor
Mas entra ano e sai ano, e o tal de fulano ainda é pior…”
Duduca & Dalvan já eram um pouco conhecidos, pois anos antes, em 1980, a canção “Mulher Maravilha” chegou a tocar nas rádios e fazer algum sucesso. Em 1984, o estouro do disco “Espinheira” se deu por dois motivos: A forte critica social da canção que dá nome ao LP e “A Pequetita”, uma inocente canção que falava da relação de um caminhoneiro com seus filhos. Trabalhadas juntas, as duas músicas estouraram e o disco vendeu mais de 2 milhões de cópias e alçou em definitivo a dupla para o sucesso. Para reforçar a posição política dos cantores, o disco trazia ainda “Pra não dizer que não falei das flores”, música de Geraldo Vandré que ficou conhecida como “hino da democracia”.
A letra de “Espinheira” (atualíssima, por sinal), passaria hoje despercebida, mas soava na época como uma afronta. E, mesmo com a ditadura enfraquecida, o Brasil ainda tínha um presidente militar no poder, que era João Figueiredo. Obviamente a ousadia fez a dupla correr riscos. Apesar de tudo isso, a canção não foi censurada e as rádios não deixaram de tocar a canção que rapidamente se tornou um grande sucesso. Em 1986, a dupla repete a dose e no LP “Massa Falida” faz novamente críticas ao sistema e seus governantes. O trabalho traz novas canções de protesto e de forma ainda mais incisiva sugere que o povo deve lutar pelos seus ideais, como você pode conferir no verso de “Massa Falida”:
“Não aborte os seus ideais no ventre da covardia
Vá a luta empunhando a verdade
Que a liberdade não é utopia!”
A ditadura militar terminou oficialmente em 1985. Mesmo assim, o país ainda respirou ares do regime por mais alguns anos. Em conversa por telefone, Dalvan contou que ele e o parceiro, Duduca, chegaram a sofrer sim algumas perseguições pelo teor de suas canções, mas que nunca deixaram de cantar a liberdade em suas músicas. Dalvan contou ainda que ele e Duduca militaram fortemente em prol da democracia, e que sempre que possível participavam de encontros e passeatas.
Histórias como estas são, infelizmente, omitidas pela própria história. Os livros escolares, por exemplo, dão a entender que apenas cantores de mpb e do rock militavam contra o regime, o que passa longe da verdade. É muito gratificante saber que a nossa música também lutou junto e serviu de ferramenta de protesto no período mais obscuro da história do Brasil.