Quando Roberto Carlos subiu ao palco do Ibirapuera na última quarta-feira (17), já passava das 23h00. Naquele momento o coração dos quase oito mil espectadores presentes ao ginásio já estava a mil, e com razão. Há poucos instantes, passaram por ali os maiores nomes da música sertaneja de todos os tempos. A homenagem sem o rei dobrou a ansiedade dos presentes.
Chitãozinho & Xororó, que tinham acabado de cantar, fizeram as vezes de anfitriões e receberam Roberto Carlos. O rei entrou sorrindo e abraçou carinhosamente a dupla paranaense. A platéia ficou em pé, Roberto muito bem alinhado, num belíssimo terno branco, agradeceu o carinho de todos e poetizou as primeiras palavras da música “Como é Grande o Meu Amor Por Você”. Em seguida cantou, lindamente.
Para os espectadores presentes naquela noite, foi tudo. Ao meu lado uma senhora se derramava em lágrimas. “Eu amo Roberto Carlos” – confidenciou ela. Ao final da canção uma voz forte como um trovão ecoou por todo o recinto. Aquela locução lembrava rodeio ou qualquer coisa que exaltasse a música caipira. Salve Tinoco!
Roberto Carlos olha para trás e Tinoco do Brasil entra sorridente. Abraçam-se, e o povo fica de pé novamente. Palmas, mais emoção. Confesso que também me emocionei nessa hora. Lembrei-me de Tinoco pedindo ajuda no ano passado, e as duras críticas que recebeu de gente que mal conhecia sua história. Um momento inédito na história, único. Finalmente fez-se justiça a alguém que fez tanto pela nossa música. Se o rei reverencia Tinoco, quem pode contestar?
Chitãozinho & Xororó, que haviam saído, entram novamente e trazem consigo uma placa. Um pequeno reconhecimento, diz Roberto, pela história do Tinoco, e complementa:
“- Para o coração que é do tamanho do Brasil, agora os “Meninos do Brasil” trazem esse presente para você.”
Tinoco, chorando, retribui:
“- Estou matando saudade de um filho, Roberto é como um filho para mim. Ele está completando 50 anos de carreira eu 75. Eu sonho com um show, Roberto Carlos, o rei da música Brasileira e Tinoco, o rei da música sertaneja.”
O público assiste a tudo sem acreditar naquele momento. Muitos nem piscam, apenas ouvem e aplaudem. Tinoco fala ainda um pouco mais, palavras um pouco desencontradas, parecia embriagado de tanta alegria. Os quatro amigos se abraçam num momento antológico e se despedem. Fica somente o rei naquele palco, que por alguns instantes parece tão vazio.
Novos acordes…
“-Essa canção…” – diz Roberto, “…tem tudo a ver com a legítima música sertaneja”. O maestro dá o tom e, de uma maneira única ,o rei interpreta “Cavalgada”. Mais lágrimas. Agora mais pessoas se emocionam com a apresentação.
De súbito todas as luzes se apagam e de forma frenética se acendem, formando imagens e desenhos. Roberto anuncia que tem “Um Milhão de Amigos”. Sob a regência do maestro a orquestra reproduz a música. Um por um os convidados voltam ao palco e recebem um carinhoso abraço do rei. Alguém traz um chapéu para Roberto Carlos, agora sim um sertanejo completo. Enfileirados ,cantam juntos, numa imagem inesquecível, a música escolhida para fechar a noite.
Quando todos deixam o palco, a canção ainda dança pela memória das pessoas. Muitos saem cantarolando o refrão baixinho. Para quem teve a maravilhosa experiência de viver esse momento, vai guardar na memória varias lembranças. A maior delas com certeza será a de que foi um belíssimo espetáculo, digno de um rei, um rei sertanejo.