Se o ano de 2017 escancarou a crise financeira na música sertaneja, aliada a uma crise criativa que tem provocado a evasão do público jovem para outros gêneros, assunto que pretendo abordar em um próximo artigo, ele também reacendeu o interesse do público por um formato que vez ou outra volta a fazer parte do cotidiano do nosso segmento: o acústico em voz e violão ou no formato mais enxuto possÃvel.
Resgatado inicialmente como uma opção barata em meio à crise para a continuidade de um projeto musical, este formato tem servido para destacar novos artistas e reacender o interesse por outros que já andavam meio esquecidos, mas que, graças à simplicidade deste tipo de som, conseguiram se reconectar com o público. Afinal, muitas vezes, menos é mais, principalmente no sertanejo.
Mas em quê a atual retomada do acústico “simples†se diferencia das outras, como a que aconteceu entre 2000 e 2007 e destacou para o Brasil nomes como Bruno & Marrone, João Bosco & VinÃcius, César Menotti & Fabiano, Jorge & Mateus e Victor & Leo?
* O apoio das gravadoras
Se entre 2000 e 2007 todos os artistas mencionados acima se tornaram conhecidos nacionalmente a partir de trabalhos gravados de forma improvisada, à margem do mercado de discos, e difundidos exclusivamente pela pirataria, hoje em dia as gravadoras e as plataformas digitais abraçam projetos dessa natureza com grande facilidade. Se o crescimento das plataformas digitais praticamente acabou com a pirataria, ele também fortaleceu a música independente ao dar a ela a possibilidade de se utilizar dos mesmos meios de divulgação que as grandes gravadoras. Se a gravação é autorizada, as plataformas aceitam numa boa. E muitos dos artistas que tem trabalhado no formato acústico “simples†já eram contratados de grandes gravadoras ou assinaram contratos recentemente, visando a distribuição justamente deste tipo de som.
* A força das canções inéditas
Apesar do formato ser mais propÃcio ao resgate de clássicos da música sertaneja, a retomada atual tem se destacado justamente pela força de ótimas canções inéditas. De 2000 a 2007, o que vimos foi Bruno & Marrone e Victor & Leo resgatando músicas do próprio repertório de anos anteriores, Jorge & Mateus resgatando grandes canções do repertório de Bruno & Marrone, João Paulo & Daniel e Leandro & Leonardo, César Menotti & Fabiano as de Zezé & Luciano e etc. As canções realmente inéditas só vinham nos discos seguintes, já dentro das grandes gravadoras. Atualmente, apesar da presença maciça dos clássicos, são as inéditas que realmente se destacam. E ainda tem artista que procura gravar apenas inéditas, mesmo em voz e violão.
* Opção barata
Entre 2000 e 2007, a força do acústico se devia ao mercado fechado das gravadoras. Era uma forma de realmente fazer as coisas acontecerem sem precisar esperar que um destes grandes conglomerados dessem alguma atenção. E realmente não davam. Atualmente, entretanto, a retomada se deve principalmente à crise financeira, não só no mercado da música. Para quê gastar uma fortuna numa produção completa se o público tem abraçado este formato tão mais enxuto com o mesmo ou até com mais carinho?
* O vÃdeo
Entre 2000 e 2007, apesar do DVD já ser uma realidade, o comum era que os trabalhos em formato voz e violão só acontecessem em áudio, até mesmo para facilitar a difusão através da Internet, dos Pen Drives e dos CDs Piratas. Gravar um DVD naquela época ainda era muito dispendioso e praticamente impensável sem o apoio de uma gravadora. Atualmente, entretanto, a regra é que um disco em voz e violão ou num formato acústico simples venha acompanhado do vÃdeo, por mais simples que seja. O que vale é o repertório, claro, mas soltar um disco assim sem um vÃdeo hoje em dia é praticamente um tiro no pé. Até porque boa parte do público se acostumou a ouvir música pelo Youtube.
Entre os artistas que o Brasil conheceu ou resgatou em 2017, segue abaixo uma lista dos que mais tem se destacado com este tipo de sonoridade.
* Diego & Arnaldo
Eles cantaram a pedra. Uma dupla recém nascida que precisava urgentemente lançar alguma coisa e teve a ousadia de gravar um DVD no formato voz e violão, algo considerado loucura até então. Mas funcionou. O sucesso da música “Sofri em Dobroâ€, gravada na época com a participação de George Henrique & Rodrigo, chamou a atenção de outros artistas, que se atentaram para o formato e começaram a se valer da mesma ideia. Pouco tempo depois, a dupla entrou em um grande escritório, a Mega Produções, numa grande gravadora, a Sony Music, e gravou uma segunda edição do mesmo projeto, intitulado “Do Jeito que Nóis Gostaâ€, mas mantendo a estrutura principal: apenas voz e violão.
* Cleber & Cauan
Se Diego & Arnaldo cantaram a pedra, Cleber & Cauan a tornaram de fato uma tendência. O projeto “Resenha†tinha mais alguns elementos além do violão, mas a essência era a mesma. Mas também emplacou um grande hit, “Quaseâ€, que também colocou a dupla na crista da onda. SaÃram da FS e foram para a Audiomix e recentemente assinaram com a Som Livre. Estão preparando um novo DVD no mesmo formato para breve.
* Thiago Brava
Conhecido por sempre ressurgir com um hit, Thiago Brava mudou radicalmente a própria sonoridade e também entrou na onda do voz e violão. Mas ao contrário das duplas acima mencionadas, ele apostou num repertório inédito e em formato EP, mas com os vÃdeos sendo disponibilizados no Youtube. A linguagem pop também foi abraçada totalmente e o reggae se tornou a principal influência sonora do projeto “Um Violão e Uma Catuaba”. “Dona Mariaâ€, com a participação do Jorge, se tornou o principal hit do momento, com mais de 200 milhões de visualizações no Youtube e semanas entre as mais tocadas nas rádios.
* Hugo & Guilherme
Em franca ascensão, a dupla vem de um DVD “normal†para um projeto gravado à beira de uma represa em Goiatuba, terra natal do Hugo, com um monte de regravações, mas todas do lado B ou não tão antigas assim, mas que já puxam uma certa sensação de nostalgia. O resultado agradou em cheio a um público sertanejo que tem o mesmÃssimo perfil do que aquele que ajudou aquelas duplas que se destacaram com o mesmo tipo de som entre 2000 e 2007: universitários, jovens, etc. O nome do projeto, apesar de ousado, não poderia ter sido mais providencial: “No Peloâ€. Se você não sabe o que essa expressão significa, sugiro um pouco mais de malÃcia e uma olhadinha rápida no Google.
* Israel & Rodolffo
Totalmente influenciados por um som na linha “Edson & Hudsonâ€, a dupla focou num repertório romântico, mas também com a essência do voz e violão, agregado a um teclado fazendo uma “camaâ€. Não à tôa, “Casa Mobiliadaâ€, com a participação dos próprios Edson & Hudson, é uma das músicas mais bonitas dos últimos tempos.
A coisa tem dado tão certo que até artistas consagrados já estão se voltando a este formato. João Bosco & VinÃcius, por exemplo, os pais da geração universitária, gravaram o mesmo repertório do disco pirata que lançaram no começo da carreira, agora também em vÃdeo e com mais maturidade musical, mas apenas com alguns elementos a mais na sonoridade. Alguns vÃdeos já estão disponÃveis no Youtube. E outros artistas também já estão seguindo a mesma linha.
Bem, enquanto a crise no mercado sertanejo não dá uma trégua, esse parece ser mesmo o formato que mais vai se destacar pelos próximos meses. Fica a dica para artistas em busca de uma alternativa lara iniciarem um projeto ou pelo menos seguirem trabalhando. Pelo menos até que a galera enxergue que a crise não é só financeira, mas também criativa. Mas isso já é um assunto pra outra postagem.
26 de fevereiro de 2018 às 19:09
Eduardo também gravou em formato acústico, estranho você não falar dele
27 de fevereiro de 2018 às 01:55
carai, verdade. Esqueci de mencionar.
26 de fevereiro de 2018 às 19:35
Realmente a Coisa Ta Feia No Sertanejo Marcão, Odeio Admitir Mais Realmente Se Não Fosse Esse Formato Acústico, Provavelmente o Sertanejo Estaria Ainda Mais Em Baixa, Tomara Que Essa Crise Criativa e Talvez Financeira Passe e Logo Alguém Tenha Uma Ideia Inovadora!
26 de fevereiro de 2018 às 20:41
Pois é… quando o dinheiro acaba,música ruim não vira hit não!
26 de fevereiro de 2018 às 23:58
O público do sertanejo é um dos mais fiéis e numerosos nesse paÃs, acho que basta vir com bons trabalhos e baixarem os cachês para poderem competir com o Funk.
Eu particularmente estou adorando esse formato porque evidencia mais o talento vocal do intérprete, estou doido para ver um novo projeto desses com Bruno & Marrone, Marcos & Belutti, Luiz Cláudio, May & Karen, João Neto & Frederico, César Menotti & Fabiano, George Henrique & Rodrigo, PatrÃcia e Adriana, e com certeza vou estar esquecendo de dezenas de outros monstros que o sertanejo tem!
27 de fevereiro de 2018 às 15:23
George Henrique fez.
27 de fevereiro de 2018 às 20:28
Vejo muitos comentários de crise no segmento Sertanejo, não consigo visualizar isso (Não sou estudiosa de batedores)!
Músicas mas tocadas em rádios, baixadas, vendagem de CD/DVD, shows com maiores públicos, maiores festivais, feiras agropecuárias, Cachês, participações em programas nas TVs abertas e canais fechados, …… São de Artistas Sertanejos. Vários Lançamentos e músicas bacanas (sem muitas modinhas ou besteirol). Vejo q alguns artistas (Os Top 20) estão fazendo projetos DVD’s menores em estrutura por que caiu no gosto do público e com isso economizam.
Vejo q existia artistas “grandes” q só estava na onda da modinha e besteirol e esse público transferiram para Funk e “abandonaram” os sertanejos neste segmento.
Outro ponto q percebo bastante é q os artistas estão investindo em outras ferramentas de divulgação do trabalho e abandonaram um pouco alguns Blogs q estavam tanto em alta q se comparavam a rádios e TVs; então talvez eles (blogs) q estão sentindo isso e plantando esse “terror da crise no segmento”.
Agora o poder de compra dos brasileiros caiu, deve ter caÃdo o ticket médio dos eventos e cachês. Vejo também q o público sertanejo cansou de algumas casas noturnas “especializadas” ( principalmente a Woods) + sem culpa do sertanejo…. Vejo bares, festas, rádios, tocando 80% sertanejo, 10% Funk e 10% eletrônico….
28 de fevereiro de 2018 às 08:53
É isso aÃ! A coisa tá feia mesmo! Várias prefeituras, que são sem dúvida alguma, os maiores contratantes de shows, vem cancelando suas festas e isso acabou afetando o caixa dos artistas. Acredito que até os sites, como o blognejo, devem ter sentido uma tirada de pé dos artistas em relação à divulgação. Enfim, o bom e velho voz e violão pode ser a tábua de salvação de muitos artistas nesse momento difÃcil. Ansioso para o artigo sobre a crise criativa, tenho certeza que essa mania de só gravarem arrocha, bachata e vanera ajudou a foder o mercado. Tem disco que não dá pra ser ouvido inteiro, por esse motivo. Dá um tédio do carai!
28 de fevereiro de 2018 às 17:26
Pois é, aqui em São Caetano do Sul já é o segundo ano seguido sem show de aniversário.
28 de fevereiro de 2018 às 17:17
Mesmo com a crise alguns artistas com sucesso regional estão investindo em DVD. Ex: PatrÃcia & Adriana e eu fiquei sabendo agora EmÃlio & Eduardo também! Sem falar que nem terminamos Fevereiro e já houve vários lançamentos, mesmo que singles ( Ex: Rionegro & Solimões, Villa Baggage, Di Paulo & Paulino, Jorge & Mateus, May & Karen, PatrÃcia & Adriana, João Bosco & VinÃcius, George Henrique & Rodrigo, Mariana & Mateus, etc… ).
28 de fevereiro de 2018 às 17:31
Fiquei sabendo agora que Mariana & Mateus vão gravar um novo DVD também!
3 de março de 2018 às 12:15
Kleo Dibah vem nesse formato, Ze Neto Cristiano, Eduardo Costa, ainda nao esta claro como trabalhara Maiara e Maraisa, Henrique e Juliano e Marilia Mendonca.
Realmente eu vi Hugo e Guilherme ontem e fiquei impressionado, um dvd simples mais com uma sonoridade de modao muito jovial, ahie sensacional.
Israel e Roldolfo pra mim foi o melhor cd do ano ate agora. Ze Neto e Cristiano vem forte de novo, so moda arregacado..
Aow sertanejaoo, morre nunca rapa.