O grande dilema da carreira do Gusttavo Lima ilustrado em um único projeto. “50/50” é um DVD que nasceu com a ideia de mostrar os dois lados do cantor: o baladeiro e o romântico. Na verdade, esse paradoxo sempre foi uma parte muito importante da carreira do Gusttavo. Ele nunca escondeu de ninguém que não queria gravar a música “Balada”, que era um contraponto a praticamente tudo o que ele havia gravado até aquele momento. Mas por obra do destino, e pelo momento vivido pela música sertaneja à época, essa música acabou se tornando o maior sucesso da sua carreira, e virou nome do seu escritório independente e até da sua fazenda. Prova que ele próprio entende e celebra a importância dela na sua vida.
Desde a “Balada”, a carreira do Gusttavo passou a ser pautada por essa dicotomia. Ou ele voltava seu projeto a uma atmosfera mais festiva, como no DVD “Ao Vivo em São Paulo”, ou a algo mais romântico ou tradicional, como no CD “Do outro lado da Moeda” (ainda o melhor da carreira) ou no DVD “Buteco do Gusttavo Lima”. Ainda assim, é fato que todos os seus discos tinham lá um pouco de cada uma dessas facetas, uns pendendo mais para um lado, outros para o outro. Mas com o “50/50” foi a primeira vez que o Gusttavo Lima resolveu brincar de forma mais clara com seus dois lados tão distintos.
De fato, o DVD “50/50” é o que melhor equilibra os dois estilos de música em seu repertório, apesar da impressão ainda ser a de um repertório ligeiramente mais agitado do que romântico. Ainda assim, são as mais tradicionais que puxam o carro. “Homem de Família”, por exemplo, vem sendo a música mais tocada nas rádios brasileiras já há algumas semanas e de fato é a cara do Gusttavo Lima, até mesmo pela mensagem que ela passa, condizente com o seu atual momento na vida pessoal. E é incrível como ela é o contraponto de “Não Paro de beber”, por exemplo, primeira música do projeto, liberada meses antes da gravação.
O DVD também é o primeiro de uma parceria inédita. O produtor Dudu Borges assina pela primeira vez um disco do Gusttavo Lima. A identidade pop do Dudu parecia não ter muito espaço na musicalidade popularesca do Gusttavo, mas a qualidade dos arranjos do disco mostra que a mistura deu totalmente certo. Há momentos do disco em que a identidade do produtor fala muito mais alto, como na música de abertura, “Minha namorada me deixou”, e também na já citada “Não Paro de Beber”. Em outros, é evidente a personalidade do Gusttavo Lima, como na ótima “Abre o portão que eu cheguei” e na própria “Homem de Família”.
O repertório do disco, aliás, é um dos grandes acertos do projeto. Um dos mais equilibrados da carreira do Gusttavo é, por sinal, também um dos que carrega a maior quantidade de hits em potencial. Apesar do começo meio cambaleante com a ousada e criticada “Não paro de beber”, que fala de um cara disposto a beber até morrer, o DVD trouxe uma série de músicas de primeira linha, dotadas de uma linguagem incrivelmente próxima do público e de fácil aceitação, como “Que Pena que Acabou”, “Homem de Família”, “Abre o portão que eu cheguei” e “Cidade Acordada”. Fora estas, o disco ainda traz canções com grande potencial, se trabalhadas da forma correta, como “FDS de Você”, “Cara de Pau”, “Coração não mente” e a música título, “50/50”.
O DVD “50/50” também vem em um momento importante da carreira do Gusttavo, no que diz respeito ao gerenciamento. É o primeiro projeto do Gusttavo após sua saída da Audiomix. Depois de um tempo de instabilidade, comum após encerramentos de contratos dessa natureza, o que causou um certo atraso no lançamento do “Buteco do Gusttavo Lima”, o DVD “50/50” pôde começar a ser planejado já com o Gusttavo totalmente independente. Por isso, era importantíssimo que o DVD fosse um acerto, já que o Gusttavo precisava provar a capacidade de tomar sozinho as próprias decisões e, mais do que isso, que essas decisões trouxessem resultados positivos. Até por isso a necessidade de gravar, neste momento, um DVD de grandes proporções, mesmo com a música sertaneja caminhando para DVDs menores.
A vantagem do Gusttavo, entretanto, é contar com o apoio incondicional do público. Ele é, provavelmente, o artista da atualidade que melhor resume a música sertaneja como um todo. Ele fala com todos os públicos, desde as classes mais populares às mais abastadas. Tem bagagem sertaneja, história de vida marcante e outras características que fazem dele um queridinho do público. Independente de quem estivesse gerenciando sua carreira, portanto, o apoio do público era algo com o que ele já podia contar e só perderia se cometesse algum erro definitivamente grave, o que nunca aconteceu. Ele sabe se vender como poucos, tanto que é ele quem liga, pessoalmente, para perguntar a opinião sobre seus próximos lançamentos. Da última vez que ligou, sugeri “Homem de Família”. E me orgulha saber que minha opinião foi uma das que ele levou em conta.